Sentimentos
em Coimbra
por Maisa Antunes
Procuro nos intervalos de tempos,
entre um encontro e outro, diminuir a distância entre Coimbra e eu. Aqui
cheguei depois de atravessar o Atlântico e debaixo de uma explosão de palmas
que festejava uma aterrissagem perfeita em Lisboa.
A cidadania portuguesa,
provisória, esperava-me. Os processos de regularização acadêmica e cidadã
davam-me desconfortos contínuos, e atiçavam-me para um desejo de regressar, em
busca do estado de conforto anterior.
Mas Coimbra estava ali a
ofertar-me suas sombras, e um sol gelado, projetando paisagens que compunha um
mosaico de arquiteturas e tempos diferentes derramados nas paredes.
Ando pelas ruas de Coimbra e intuo
que um dia vou olhá-la com mais intimidade. Marco Polo, em Cidades Invisíveis -
de Ítalo Calvino - diz que os lugares são
espelhos em negativo. Cada lugar tem suas marcas, seus mistérios, e seus
símbolos, alguns se mostram para o viajante, quiçá também para o estudante, que
passa por aqui mais devagar que o turista.
O Bairro Santa Justa, a casa
amarela, as Sofias, os Antonios, os Marcelos, os Joãos, as Cláudias e Ritas
ligam-me a uma teia de sentidos, permanências e breves pertencimentos a esta
terra. E os contatos com a cidadania portuguesa estranhamente dizem-me: “Você é
estrangeira”.
Na história “Caminhos de alta
festa” Eduardo Galeano lembra que houve tempos em que
“o mundo inteiro era nosso reino, imenso mapa sem fronteiras, e nossas pernas
eram o único passaporte necessário”.
O Pequeno Príncipe cativou e foi
cativado pela Raposa, que como a Rosa se tornou única para ele, dentre tantas
existentes. Imagino que um dia depois que voltar para o Brasil, numa praia
qualquer olharei o horizonte repousado no Atlântico e sentirei saudades de
pessoas e experiências aninhadas em meu coração.